terça-feira, 28 de setembro de 2010

AÇÃO É CORPO


O corpo estereotipado, vitrinizado.
Fetiche, desejo.
Um tipo de corpo “padrão”
que se designa um desejo de consumo deste corpo.
Desenhado, definido, trabalhado.
O mesmo corpo que tem em si as mesmas sensações,
emoções etc e tal, que pra ele é voltado.
Um corpo “autônomo”?
Um corpo “padrão” que tem seu controle?
Que controla?


“O Homem não é senhor de si nem em sua própria casa”.
Freud.

O mesmo corpo que controla pode hesitar?
Ter dúvidas do seu controle?
Continuar a desejar, a ter pra si,
a consumir (-se) mesmo quando seu controle não controla?
E o que ingere?
O que coloca pra dentro de si?
O mendigo também não é uma vitrine?
Não está vitrinizado?
Um corpo que não se almeja,
que não é desejado se coloca em contradição ao corpo vitrine de desejo?
A contradição não reforça o contradito?
O mendigo pede dinheiro na rua fazendo uso do corpo que é?
Utiliza-se da sua imagem não desejada para se valer da condolência do outro?
Que tipo de corpo constitui o mendigo?
Como sair da vitrine do corpo desejado para corpo indesejado?
Um corpo consumido por si próprio?
Exaurido?
Esgotado?
Que sai da vitrine das belas exposições e entra na vitrine do asno,
do grotesco, do estranho, do indesejável, do “corpo sem órgãos”.
Que de tanto consumir consumiu-se.
Como uma massa, pastosa, gosmenta,
a desmanchar, desintegrar, a arrastar-se.
Que com o controle nas mãos é capaz de deixar-se destruir.
Uma má utilização do seu poder?
Uma falta de medida de controle?
O descontrole?
O se ver, se consumir, se dizimar?
Esse corpo chiclete muito, mas muito mastigado.
Que de tanto cheiro faz-se feder.
Enjoar, nausear, embrulhar tudo.
O contrair-se de tanto se “auto-consumir”.
O seu centro é o umbigo.
Entra em si mesmo.
Sem força, esgotado, enxertado.
Uma bolha cheia de vazio.
Como um excremento.
Suor, fezes, vômitos, pensamentos.
Seu auto-retrato num momento qualquer do seu
auto-descontrole-destruidor-de-si-mesmo.
Já não é mais visto,
Já não há mais importância
Uma sombra que se arrasta
O chão que o engole
A gravidade passa a ser a lei que impera sobre si.
O que é desejado e auto-desejado passa a ser
a vitrine do que não se quer não se deseja o que não é visto.
O resto.
Podre.
Fétido.
Falecido ser coisa viva..

(Thiago Enoque, 2007)

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