segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Do imail de Robson Mol

Te escrevo este e-mail também, porque estava vendo o blog do autólise e lembrei do primeiro paragrafo do "O anti-édipo" do Deleuze e Guattari, que lhe transcrevo agora:

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Isto funciona em toda parte, às vezes sem parar, às vezes descontínuo. Isto respira, isto esquenta, isto come. Isto caga, isto fode. Que erro ter dito o isto*. Em toda parte são máquinas, de maneira alguma metaforicamente; máquinas de máquinas, com seus acoplamentos, suas conexões. Uma máquina-órgão é ligada em uma máquina-fonte: uma emite um fluxo que a outra corta. O seio é uma máquina que produz leite, e a boca, uma máquina acoplada nela. A boca do anoréxio hesita entre uma máquina para comer, uma máquina anal, uma máquina para falar, uma máquina para respirar (crise de asma). É por isso que somos todos bricoleurs**; cada um suas pequenas máquinas. Uma máquina-órgão para uma máquina-energia, sempre fluxos e cortes. O presidente Schreber tem raios do céu no cu. Ânus solar***. E estejam certos de que funciona; o presidentes Schreber sente alguma coisa, produz alguma coisa, e pode fazer a teoria disto. Alguma coisa se produz: efeitos de máquina, e não metáforas.


*No texto francês há um jogo de palavras intraduzível entre ça, 'isto', 'isso', e ça, tradução francesa do Es freudiano e equivalente ao id das traduções para o português (N. do T.)


** Optamos por não traduzir os termos bricoleur e bricolage, seguindo a praxe das traduções de obras de Lévi-Strauss, por não haver em português palavras com sentido correspondente. Bricolage é a atividade de aproveitar coisas usadas, quebradas, ou apropriadas para outro uso, em um novo arranjo ou em numa nova função. Lévi-Strauss introduziu este termo na linguagem antropológica para caracterizar a atividade mito-poética. Cf. O Pensamento Selvagem. (N. do T.)


*** Referência a Georges Bataille, Cf. nas Oeuvres Compllètes, Éditions Gallimard, o texto com esse título. (N. do T.).
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Vê se tem a ver... rs.

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